"Ninguém é mais tolo do que um homem que não faz nada porque só pode fazer um pouco."
Edmund Burke
Quem é Kony?
Por que 2012?
Aqui você encontra todas as respostas a essas perguntas.
Esta página foi criada com três intuitos:
- Apoiar e promover a campanha KONY 2012
- Esclarecer todas as questões relacionadas à campanha
- Rebater críticas fraudulentas e de má-fé dirigidas a ela
- Apoiar e promover a campanha KONY 2012
- Esclarecer todas as questões relacionadas à campanha
- Rebater críticas fraudulentas e de má-fé dirigidas a ela
Evidentemente, não proponho “rebater todas as críticas”, pois existe algo chamado “crítica construtiva”, mas somente as críticas que não visam a nada mais do que desinformar e difamar, seja por mentira e má-fé de quem critica, seja por pura e dura ignorância de quem fala sem saber (a maioria dos casos). São essas críticas não fundamentadas que precisam ser desmascaradas.
Se você tiver qualquer questão que não esteja tratada no site, qualquer uma, por favor escreva, e publicarei uma resposta esclarecedora, ou remeterei a um link que responda.
Explore este espaço à vontade. Comece a entender de uma vez por todas a campanha KONY 2012.
Comece imediatamente!
Veja abaixo:
1. Os programas da Invisible Children na África
2. Vídeos oficiais da campanha KONY 2012
3. Quem é Kony?
Veja abaixo:
1. Os programas da Invisible Children na África
2. Vídeos oficiais da campanha KONY 2012
3. Quem é Kony?
4. O que Kony faz que merece tanta atenção?
5. Ideologia
6. Qual o objetivo do LRA?
7. Como o LRA pode existir?
8. Entendendo o caso
9. Um pouco de história
10. Como surgiu o LRA?
11. Repondendo a críticas
Se quiser conhecer os programas da Invisible Children na África, que é para onde de fato vai a sua doação, então clique na imagem abaixo:
5. Ideologia
6. Qual o objetivo do LRA?
7. Como o LRA pode existir?
8. Entendendo o caso
9. Um pouco de história
10. Como surgiu o LRA?
11. Repondendo a críticas
Se quiser conhecer os programas da Invisible Children na África, que é para onde de fato vai a sua doação, então clique na imagem abaixo:
Site oficial da Invisible Children Brasil:
Blog americano da Invisible Children:
http://invisible.tumblr.com/
Vídeos Oficiais da Campanha:
Nota importante: este site não possui fins lucrativos e é de iniciativa exclusivamente pessoal. Não trabalho para ninguém e não represento oficialmente a Invisible Children. Estudei o LRA e os conflitos civis da África central na universidade e partilho aqui tudo o que posso sobre o que aprendi.
Eu, o autor, não possuo nenhum copyright sobre os materiais eventualmente vinculados aqui. Todos os meus textos estão disponíveis para cópia, reprodução ou citação. Abro mão de qualquer direito de propriedade intelectual que possa haver sobre o que escrever neste espaço.
Eu, o autor, não possuo nenhum copyright sobre os materiais eventualmente vinculados aqui. Todos os meus textos estão disponíveis para cópia, reprodução ou citação. Abro mão de qualquer direito de propriedade intelectual que possa haver sobre o que escrever neste espaço.
Esteja à vontade para divulgar e usar essas informações da maneira que bem entender.
Vídeos Oficiais da Campanha:
"KONY 2012"
1º vídeo da campanha
(legendado em português):
1º vídeo da campanha
(legendado em português):
"KONY 2012 - Além da Fama"
2º vídeo da campanha
(legendado em português)
(legendado em português)
Agradecimento pela divulgação da campanha
(legendado em português):
Joseph Kony em 1987 |
Sabemos através de testemunhos de pessoas que conviveram com ele durante a infância e adolescência que Joseph Kony demonstrava reflexos violentos e de agressão física no convívio social. Mais do que traços normais de uma personalidade, este caráter violento expandiu-se a dimensões monstruosas. Seu comportamento aberrativo pode ter sido fomentado por uma mistura de fatores, entre eles:
1) problemas psicológicos graves;
2) um contexto de muita violência e opressão em sua terra natal;
3) uma educação que se pretendia religiosa mas que desandou para obsessões doentias.
Seu pai era um catequista católico e sua mãe uma protestante anglicana, e o próprio Kony serviu como coroinha até a idade de 15 anos, quando parou de frequentar a igreja e passou a estudar bruxaria, com a alegada intenção de tornar-se feiticeiro e curandeiro em sua vila rural.
1) problemas psicológicos graves;
2) um contexto de muita violência e opressão em sua terra natal;
3) uma educação que se pretendia religiosa mas que desandou para obsessões doentias.
Seu pai era um catequista católico e sua mãe uma protestante anglicana, e o próprio Kony serviu como coroinha até a idade de 15 anos, quando parou de frequentar a igreja e passou a estudar bruxaria, com a alegada intenção de tornar-se feiticeiro e curandeiro em sua vila rural.
Seja por traumas severos, seja por doença mental, Kony não é um homem normal. Infelizmente, está muito longe disso.
Kony preside um culto à sua personalidade e lidera uma milícia que ele chama de Exército da Resistência do Senhor. Proclamando-se o messias e um médium, ele fundou o grupo nos anos 80, modelando-o de acordo com o Movimento do Espírito Santo (Holy Spirit Movement), que era, por sua vez, um grupo armado encabeçado por uma ex-prostitura chamada Lakwena que se autoproclamava defensora do povo acholi contra o governo de Yoweri Museveni, presidente de Uganda. Crendo-se possuidora de poderes mágicos, Lakwena prometia a seus combatentes que eles se tornariam à prova de balas se passassem manteiga de karité no corpo. Eventualmente as tropas do presidente Museveni derrotaram Lakwena em 1988 e esta fugiu para o Quênia, deixando o caminho livre para Joseph Kony, que dominou as estruturas que o grupo deixou para trás e ocupou o espaço deixado vago na histeria messiânica que tomava conta da sociedade ugandense. Kony primeiro batizou sua milícia de Exército Republicano Popular de Uganda (UPDA – Ugandan People’s Republic Army), e em seguida de Força Móvel do Espírito Santo (Holy Spirit Mobile Force), e, finalmente, de Exército da Resistência do Senhor, internacionalmente conhecido como LRA (iniciais do grupo em inglês: Lord's Resistance Army).
Kony tem um harém de 60 escravas que ele chama de "esposas" |
E centenas de filhos, que só conhece- rão uma vida de matança. Esses futu- ros soldados são frutos de estupros. |
O Exército da Resistência do Senhor (LRA) é com frequência apelidado de Lakwena 2 (ou Lakwena Parte II). Quando fundado em 1987 era um grupo militante na região de maioria étnica acholi do norte de Uganda. Inicialmente, o LRA cresceu como uma continuidade de uma larga onda de movimentos de resistência do povo acholi contra governos centrais que eles consideravam opressivos e discriminatórios por favorizar as populações do sul do país, de maioria étnica baganda. Historicamente, o LRA opera em Uganda, Sudão, Sudão do Sul, República Democrática do Congo e República Centro-Africana.
O LRA é acusado de violações de direitos humanos em larga escala, incluindo homicídios, sequestros, mutilação, tortura, estupro, escravismo sexual de homens, mulheres e crianças e uso de força contra crianças para participação em conflito armado.
O grupo é liderado por Joseph Kony, que se proclama porta-voz de Deus, médium espiritual e representante do Espírito Santo na Terra. Ideologicamente, o grupo se caracteriza, em princípio, por uma mistura sincrética radical de misticismo, nacionalismo e cristianismo e diz lutar pela implantação de um estado teocrático com constituição baseada nos dez mandamentos bíblicos e de tradição acholi. No fundo, é apenas uma técnica para reclamar um objetivo impossível de se concretizar e continuar a campanha de terror ad infinitum.
A área atualmente conhecida como Uganda foi dividida ao longo dos séculos entre diferentes grupos étnicos e linguísticos. Povos camponeses de origem bantu tais como o povo buganda, que é maioria no sul e leste do país, criaram estruturas sociais e econômicas diferentes do povo acholi do norte do país, e suas civilizações competiram uma com a outra ao longo da história. O povo acholi tem origem nilótica e tradição agrária (enquanto os bugandas especializaram-se em agricultura).
As divisões étnicas e culturais da região continuaram a existir durante o Protetorado Britânico de Uganda, no período da colonização inglesa. O povo agricultor buganda uniu-se em cooperação com os britânicos, formando uma aristocracia. Contrariamente, o povo acholi e outros clãs do norte serviram como trabalhadores braçais e membros das forças armadas. As regiões do sul, de solo fértil e rico em recursos naturais, tornaram-se o centro do desenvolvimento agrícola. Já o povo acholi, de especialização pastoril, permaneceu como a parte mais pobre do país, no norte. Após a independência de Uganda em 1962, os diferentes grupos étnicos continuaram a alimentar rivalidades dentro das fronteiras do novo sistema político.
Cercada pelos grandes lagos africanos e 5 países |
Em 1988, Alice Lakwena, ex-prostituta de origem acholi, fundou o Movimento do Espírito Santo (Holy Spirit Movement), um movimento de resistência inspirado em fundamentalismo cristão (religião é um tema muito forte na sociedade conservadora de Uganda, e prato cheio para movimentos carismáticos pilantras e líderes mal intencionados). Lakwena se dizia uma profeta que recebia mensagens diretamente de Deus e o seu Movimento encontrou solo fértil na histeria religiosa característica do país e conquistou as massas com seu discurso de protetores das minorias oprimidas. Influenciada por suas crenças místicas africanas, pregava que o povo acholi podia derrotar as forças do presidente Yoweri Museveni por meio de feitiçaria e tradições espíritas de sua cultura. Alegava que Deus lhe instruía a passar manteiga de karité no corpo como proteção anti-balas, nunca fugir do campo de batalha e nunca matar cobras ou abelhas (seres humanos podia à vontade).
Amarelo: região predominantemente acholi |
Joseph Kony e seus seguidores mais próximos saíram de sua vila natal de Odek em 1 de Abril de 1987. Alguns dias mais tarde se encontrou com um grupo de dissidentes da Frente Nacional da Libertação de Uganda a quem convenceu de combater por seu próprio grupo (para Kony). O primeiro ataque por eles perpetuado foi na cidade de Gulu.
Lakwena, pouco antes de sua morte em 2007 |
Em 1988, Lakwena foi derrotada na batalha de Jinja e fugiu para o Quênia. Era o que faltava para que Kony dominasse a cena, que ocupou o espaço deixado e passou à liderança da chamada 2ª Força Móvel do Espírito Santo.
A partir da década de 90 o LRA se viu muito fortalecido quando começou a ser apoiado pelo governo sudanês, que decidiu investir no grupo guerrilheiro por retaliação ao governo de Uganda, porque este último apoiava movimentos rebeldes no Sudão (esses movimentos rebeldes do Sudão tiveram sucesso e conseguiram se tornar um país independente em 2011: o Sudão do Sul). Oficialmente, o governo do Sudão deixou de apoiar o LRA quando o grupo recebeu um mandado de prisão e de captura por parte do Tribunal Criminal Internacional, mas sendo este país governado por um dos mais cruéis e loucos ditadores do mundo, Omar al-Bashir, não há como garantir que por baixo do tapete o apoio ainda não exista.
Em 1996 o LRA declarou um cessar-fogo durante o tempo que durasse as eleições em Uganda. Este gesto se explica pela esperança do grupo de que o presidente Museveni perdesse o pleito, o que não aconteceu. Sua campanha de terror voltou com força e em Janeiro de 1997 o grupo atacou a cidade de Lamwo, no norte, matando mais de 400 pessoas e desalojando 100.000.
Desdobramentos recentes:
Em 2004, as forças armadas oficiais de Uganda anunciaram que o Papa João Paulo II e o ex-presidente americano Jimmy Carter propuseram ao LRA servir como intermediários para uma negociação de cessar-fogo e fim de hostilidades, mas Joseph Kony recusou essas iniciativas.
Os exércitos do Congo, de Uganda e do Sudão lançaram operações de ataque contra os guerrilheiros do LRA ainda em Dezembro 2008 com a intenção de desarmar o grupo e terminar de maneira definitiva o conflito, mas não tiveram êxito nesta empreitada.
Igualmente, a Operação Lightning Thunder (Relâmpago Trovejante) do exército de Uganda em 2009, que tinha por fim causar uma derrota final ao LRA, não conseguiu ser bem-sucedida, e o LRA respondeu com agravada brutalidade em ataques de vingança, matando mais de 1000 pessoas no Congo e no Sudão. Kony não foi preso ou abatido nessas operações.
Em Agosto, o LRA atacou a Igreja de Nossa Senhora Rainha da Paz em Ezo durante as festividades da Assunção de Maria, sequestrando 17 crianças e matando outros com seus tradicionais requintes de crueldade. O arcebispo John Baptist Odama veio então a público pedir uma intervenção estrangeira para pôr um fim ao LRA.
A ideologia do LRA é tema de disputa entre acadêmicos. Embora nos seus primórdios o LRA fosse considerado principalmente uma milícia fundamentalista cristã (como a Al-Qaeda é uma milícia fundamentalista islâmica, ou seja, de religiosos não têm nada), o grupo evocava também nacionalismo acholi, mas o desenrolar dos anos demonstra sem espaço para dúvidas que Kony e seus generais não estão comprometidos com nem uma coisa, nem outra. Na verdade, o próprio Tribunal Criminal Internacional reconhece que o LRA não trabalha para causa alguma e não defende nenhuma ideologia identificável. Todas as ações do grupo mostram que sua única razão de existir é... sua própria existência. Kony vê o seu exército como um fim, e não como um meio. Manter o conflito sangrento e a campanha de terror é a única maneira que Kony tem de possuir poder material, de impor seus caprichos cruéis (como o seu harém de escravas, sua equipe de guarda-costas pessoais e suas relações com traficantes de armas, políticos sudaneses, terroristas, e guerrilheiros da região) e de se manter fora da prisão ou de uma condenação à morte. É apenas pela sua própria “liberdade”, seu estilo de vida bárbaro e cruel e seus devaneios pessoais de poder militar e político que Joseph Kony comanda seu exército do mal. Não existe, na realidade, algo concreto que ele possa “conquistar” que possa pôr um fim ao conflito. Não há nada para ser conquistado. Ele apenas está buscando uma “vitória pírrica”, deixando um oceano de sangue e brutalidade no caminho. Vitória pírrica, ou vitória de Pirro, é uma expressão utilizada para descrever uma campanha militar de prejuízos irreparáveis. Por exemplo: ele sabe que por ser um criminoso procurado nunca poderá exercer política partidária, seguir uma carreira militar legalizada ou viver sem se esconder altamente armado numa floresta. Como ele sabe que nesta altura lhe é impossível de conhecer outra vida então ele vive para o “tudo ou nada”. E se toda a etnia acholi ou todos os cristãos ugandenses tiverem de ser exterminados do mundo, ele não tem nada a perder. Se o despreparado exército ugandense lhe ataca, ele também não tem nada a perder se sacrificar seus soldados, que eram crianças que ele sequestrou e lavou cerebralmente, não tendo valor nenhum para Kony.
Isso é que torna o LRA aindaa mais inaceitável e absurdo do que tantos grupos terroristas: n-i-n-g-u-é-m apoia o LRA. Nem o governo do Sudão, que lhe financiava, abrigava e armava, se identifica em nada com a campanha do grupo, e dava seu apoio por mera vingança porque queria encontrar alguma maneira de perturbar seu rival geográfico, Uganda. Não existe causa, luta ou ideologia nenhuma no LRA para que possa haver simpatizantes da mesma, ainda que estivéssemos falando de indivíduos radicais. Pense nos seguintes exemplos: as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) são consideradas um grupo terrorista por várias entidades e países no mundo, mas defendida por alguns indivíduos que vêem nelas apenas um grupo de rebeldes comunistas legítimos. Esse embate de visões acaba dificultando um consenso necessário para responder aos atos perpetuados pelo grupo e dentro de qual legislação lhe enquadrar. De igual modo, pense na Al-Qaeda: praticamente todos os países e organizações do mundo consideram-na uma organização terrorista, mas ela possui vários simpatizantes em regiões onde o fundamentalismo islâmico e o sentimento anti-americano são fortes. Mais uma vez, essas divergências se revelam um obstáculo quando a comunidade internacional precisa responder de maneira uníssona a ataques terroristas, pois sempre vai haver quem defenda uma ideologia, por mais radical que seja sua versão. Mas não é o caso do LRA! A sua única razão de ser é fazer o terror pelo terror. Kony vive para aterrorizar e precisa ser detido imediatamente e de maneira firme, decisiva e definitiva. Não há desculpas para que a comunidade internacional e as autoridades de cada país não se mexam para pôr um fim a esse episódio desastroso, horrível e macabro da nossa história humana. Este é, de fato, uma ocasião onde quem cala, consente; onde não há o que debater.
Vicent Otti, general do LRA e braço-direito de Joseph Kony, também procurado pelo Tribunal Criminal Internacional, num momento revelador disse certa vez numa entrevista que “Exército da Resistência do Senhor é apenas um nome”. Quando questionados por algum repórter aventureiro sobre porquê eles lutam, os membros do LRA costumam responder com a mesma ironia que James Alfred Obita, líder de delegação do LRA: "por respeito aos direitos humanos". Não se engane, o povo acholi é de todos o mais massacrado pelo reino de terror do LRA, e é por eles que o grupo terrorista diz lutar. Kony apenas quer confundir e semear cizânia, mas o seu nível de absurdo e sua crueldade não permitem dúvidas. Kony vive para Kony, e quem lhe segue procura saciar caprichos cruéis como o dele.
Mas quem lhe segue?
Zonas atacadas pelo LRA nos últimos 2 anos. Fonte: LRA Crisis Tracker |
Este mapa mostra o número de pessoas desabrigadas pelo conflito do LRA e a percentagem que eles repre- sentam do total da população em cada província |
Qual o objetivo do LRA? É difícil identificar exigências consistentes. O grupo começou como uma milícia étnica acholi e depois adotou uma retórica de símbolos do cristianismo com uma forte dose de misticismo africano. Mas à medida que o apoio do povo acholi foi sendo perdido, Kony começou a oprimir, e cada vez mais, todo civil que se recusasse a se unir ao seu grupo ou "causa". Qualquer que tenha sido a característica cristã (se é que alguma vez existiu) que o LRA inicialmente possa ter tido ela também terminou por desaparecer inteiramente e foi substituída por um culto à personalidade de Kony, centrado totalmente sobre si próprio. À medida que o grupo foi sendo expulso do território de Uganda e alargou seu campo de atuação para o Sudão, o Congo e a República Centro-Africana, deixou de lado o objetivo de derrubar Museveni do poder e sua razão de existir passou a ser simplesmente sobreviver por métodos de terrorismo.
Kony se autodeclara o messias |
Kony cercado de seus guarda-costas pessoais |
Há muitas hipóteses esboçadas para explicar a falta de êxito do exército ugandense ao lidar com o LRA nos últimos 25 anos. No início, quando foi fundado, o LRA teve algum apoio das comunidades acholis, especialmente numa época em que o exército do presidente Museveni, liderado por homens do sudeste do país (historicamente hostis aos acholis, do norte), era acusado de abusos contra aquela população. No entanto, o sadismo profundo de Kony e do LRA aterrorizou os civis e terminou por desencorajar movimentos de resistência, ao mesmo tempo que passou a sequestrar crianças justamente da população que fingia vir proteger para usá-las como escudo humano no campo de batalha. No início, com o intuito de ganhar apoio, proteção, financiamento e alistamento, Kony se dizia um defensor do povo acholi, e conseguiu enganar muita gente, mas assim que a situação se estabilizou e os conflitos mais sérios entre o governo de Uganda e as províncias acholis cessaram, com a população retomando uma vida normal, a partir daí as pessoas pararam de contribuir com os guerrilheiros, que já não tinham mais razão de existir.
Parecia que finalmente a guerra ia acabar e aquele país ia conhecer a paz. Foi aí que Kony mostrou a sua verdadeira face. Ele não montou um exército para proteger povo nenhum. Apenas usou de suas origens acholis para conseguir o que queria daquela população. Assim que o apoio, o financiamento e o alistamento acabaram, Kony viu seu exército diminuindo, e seu poder e influência desaparecendo. Obcecado com seu projeto de poder pessoal, passou a aterrorizar as vilas acholis, sequestrando pessoas e forçando-as a tornarem-se soldados a seu serviço. Como os homens adultos não cediam e, em vez disso, combatiam sua campanha de terror, decidiu desde então a matar sempre os adultos e a sequestrar somente as crianças, mais fáceis de dominar e de manipular. Do dia para noite, Joseph Kony e seus capangas passaram de "protetores dos oprimidos acholis" para "o maior assassino de acholis da história". Toda a opressão que os acholis conheceram nas mãos de diferentes governos torna-se algo pequeno quando comparada com a escala dos crimes e abusos a que eles foram sujeitados por Joseph Kony e o LRA. Kony agora mostrava estar disposto a matar e torturar seu próprio povo por seus desejos malignos de poder.
Além dos assaltos e sequestros, de que outra forma o LRA conseguiu manter-se financeiramente e militarmente?
Durante duas décadas os terroristas do LRA puderam contar com ajuda do governo sudanês (exatamente o mesmo governo que organizou o genocídio em Darfur), que lhes financia, arma-os e abriga-os, e tudo isso como vingança porque Uganda declarou apoio ao Exército da Libertação do Povo Sudanês, um grupo rebelde que luta contra o governo do Sudão.
Contudo, este apoio sudanês acabou por se enfraquecer também porque em 2011 o Sudão do Sul (na fronteira com Uganda) declarou independência, e tornou-se mais complicado as operações entre o governo sudanês e os guerrilheiros do LRA. E também em 2011 os Estados Unidos, em um gesto celebrado pelo governo de Uganda e da União Africana e sem precedentes, enviou 100 especialistas militares munidos e equipamento de ponta para Uganda. Todos esses fatores, somados a pequenas mas significativas conquistas militares do exército ugandense em anos recentes, forçaram os terroristas do LRA a se refugiarem nos territórios selvagens do Congo e da República Centro-Africana, países vizinhos onde eles continuam suas operações e seu reino de terror e desumanidade, sequestrando, matando, escravizando e roubando para se manter e escondendo-se na densa floresta tropical para sobreviver.
O homem por trás de tudo: hora de pagar a conta |
Infelizmente, o continente africano ao longo do século XX foi uma região de muitos conflitos violentos, cuja origens são complexas mas o sangue derramado é muito real. As dores de tanto sangue e brutalidade alimentam um ciclo vicioso macabro, e se queremos entender como é possível que ainda aconteça o que acontece nesse continente é preciso termos algumas noções de história e das especificidades do continente e dos países que o compõem.
Força militar
O governo de Uganda alega que o LRA tem entre 250 e 1000 soldados em suas fileiras. Outras fontes estimam que possa haver até 3000 soldados e 1500 mulheres e crianças. É impossível te rum número exato, mas é sabido que os principais combatentes empregados são crianças. Desde o início do conflito, estima-se que entre 10000 e 60000 meninos e meninas já tenham sido forçados a se “alistar”, frequentemente obrigados a matar suas famílias, vizinhos e mestres neste processo.
A maior parte dessas crianças foram postas na linha de frente do combate ou serviram de escudo humano para Kony e seus associados. Por isso, o índice de mortalidade entre os soldados-crianças no conflito é muito alto. Crianças-soldados são considerados como soldados descartáveis por serem facilmente substituíveis a cada novo assalto e ataque do a uma vila ou aldeia, enquanto os soldados adultos são preservados como sendo mais preciosos para o LRA (no fundo, porque eles são o LRA). Normalmente as tropas do LRA atacam em grupos de 10 ou 20, mas há ataques menores e outros bem maiores.
O Sudão, sob ordens do ditador Omar al-Bashir, já ofereceu apoio e assistência militar ao LRA, em resposta ao apoio que Uganda deu ao grupo conhecido como Exército Popular da Libertação do Sudão. Este gesto não é de se estranhar pois Omar al-Bashir, presidente sudanês, é ele próprio um criminoso indiciado pelo Tribunal Criminal Internacional (o primeiro chefe de estado a conseguir esta proeza). O Genocídio de Darfur é o crime mais famoso deste homem que é um dos indivíduos mais ricos do mundo e presidente de um dos países mais miseráveis do planeta.
Entendendo o caso
Veja bem: é impossível ter um conhecimento verdadeiro do grupo terrorista Al-Qaeda sem ter algumas noções básicas da história de Osama bin Laden e sua família, da invasão soviética do Afeganistão, da realidade geopolítica da Guerra Fria, das relações dos Estados Unidos com a Arábia Saudita, do conflito entre Israel e os países árabes, do papel do wahhabismo no Oriente Médio, dos anos da ditadura do Talibã, entre outras coisas. É claro que não é preciso saber nada disso para entender, com clareza e na mais perfeita condição, que quem sequestra um avião e o joga contra um prédio – matando milhares de pessoas, destruindo milhares de famílias e justificando guerras que vão devastar outras tantas milhões – é um assassino, um terrorista, e alguém que, qualquer que seja sua história, precisa ser detido o mais rápido possível. Óbvio que não é preciso ler nenhum livro para reconhecer um ato tão atroz e cruel quando nos deparamos com um. Mas se, por outro lado, queremos saber qual foi a conjectura por trás e entender a multiplicidade de fatores que culminou com um acontecimento tão horrível, nem que seja para impedirmos que isso volte a acontecer, aí precisamos de informação a mais. Da mesma maneira, qualquer um com uma mínima consciência e dignidade de espírito pode reconhecer que Hitler e os generais nazistas eram pessoas cruéis e os seus atos monstruosos, e que era uma obrigação moral acabar com o seu reino de terror e seus planos doentios. Não é preciso ser um grande observador para concordar com isso. No entanto, se quisermos entender como foi possível que uma ideia tão macabra quanto o nazismo tenha nascido e ganhado força em pleno século XX, aí precisaremos conhecer a história e compreender seus detalhes e suas consequências. É por isso que é preciso separar alguns minutos e um pouco de inteligência para ler o que se segue, para entender com um pouco mais de profundidade a origem do LRA e como um monstro tão brutal como Joseph Kony ganhou um poder tão assustador e inimaginável. Você já entendeu bem que ele precisa ser detido imediatamente, custe o que custar, e isso é uma certeza, mas somente bem informados poderemos fazer como aqueles que depois da Segunda Guerra mundial e dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 levantaram-se e juraram: NUNCA MAIS ISSO SE REPETIRÁ.
NEVER AGAIN: nunca mais. Chega de guerras na África. |
Alguma vez você já se questionou por que "os africanos" se matam sem parar? Entendo essa impressão, mas ela é enganosa. Não são os africanos que se matam. É o ser humano. Só que na maior parte do mundo as fronteiras nacionais e o sistema político já estão relativamente bem organizados para evitar conflitos entre os diferentes grupos da sociedade no país ou no continente. Mas nem sempre é o caso. Vejamos um exemplo trágico muito recente, num continente que imaginamos pacífico:
A antiga Iugoslávia era um país na Europa que existiu entre 1918 a 2003. Suas fronteiras não refletiam a distribuição étnica da população, fator muito importante para aquela comunidade (uma situação similar à dos países africanos). Iugoslávia quer dizer “terra dos eslavos do sul”. Os eslavos são o povo que habita o leste da Europa. Mas isso é como dizer que “os africanos são o povo que habita o continente africano”: não existe nesta categoria nenhum sentimento de união entre esses povos que, ironicamente, têm uma história comum sobre a mesma terra, e logo o adjetivo perde-se num vazio de significados justamente para aqueles a quem é atribuído. Mas, afinal, o que aconteceu com a Iugoslávia? Não desista: prometo que ao fim do texto você vai entender melhor o conflito em Uganda!
Os iugoslavos nunca pararam de se diferenciar etnicamente uns dos outros (entre eles próprios) e de fomentar o separatismo, em um gesto que para o leitor de língua portuguesa pode parecer absurdo ou sem sentido. Já imaginou um amigo lhe dizer que tem uma namorada ou que quer votar em alguém e a sua primeira preocupação é saber qual a etnia da pessoa de quem ele fala? No entanto, é o que acontece em muitos países da África, e o que acontecia na Iugoslávia também. No Brasil, por exemplo, as pessoas tendem a se ver umas às outras como brasileiros antes de pensar em raça, etnia ou origem, mas os iugoslavos se viam antes de tudo como albaneses, bosníacos, búlgaros, croatas, macedônios, montenegrinos, sérvios, eslovenos, e ainda distinguiam grupos menores, como os tchecos, eslovacos, morávios, polacos, silesianos, sórbios etc! Ou seja, insistiam em se distanciar e se diferenciar em categorias étnicas.
O que aconteceu, então? Aconteceu que a política na Iugoslávia foi sempre marcada por questões étnicas e terminou por conhecer a mesma tragédia de tantos países africanos: cada indivíduo passou a apoiar partidos e candidatos que sentisse pertencer à sua etnia. E o que acontecia quando as coisas iam mal no país (problemas sociais, economia, violência, etc)? Era sempre a culpa “do outro”, do grupo étnico “x”, que “não são dignos de respeito”, que “conspiram contra o país”, etc. Etnia tornava-se o grande bode expiatório para todos os problemas. E o que acontecia quando um partido político de uma determinada etnia ganhava as eleições? R: Passava a discriminar e a perseguir as outras etnias. O ciclo vicioso do ódio étnico se alimentou e se exponenciou neste sistema. Infelizmente, o fim desta história é muito mau: em 1997 um homem chamado Slobodan Milosevic, de etnia sérvia, chegou ao poder e passou a oprimir com uma crueldade sem precedentes os outros grupos. Eventualmente os ânimos explodiram e começou uma sangrenta guerra civil no país. As regiões onde cada grupo étnico era majoritário começaram a declarar independência da Iugoslávia e o presidente Milosevic retaliava com enorme violência. Um crime hediondo passou a ser executado pelos seus exércitos: “limpeza étnica”. O que quer dizer isso? O mesmo que Hitler tentou fazer na Alemanha; o mesmo que tentaram fazer em Ruanda em 1994: aniquilar uma etnia inteira. Como? De duas maneiras, principalmente: matando tantos indivíduos da outra etnia quanto puder, sem distinção de idade, sexo, condição etc, e estuprando e esterilizando tantas mulheres quanto possível, para impedir o nascimento de uma criança da etnia “indesejada”. Como você pode imaginar, as populações que foram perseguidas e maltratadas criaram um ódio e um rancor muito grande, e também um medo. O conflito e a violência aumentavam e não se via fim no horizonte. O mais provável é que iam se matar até não poder mais. Possivelmente, etnias inteiras iam desaparecer se as coisas ficassem ao "Deus dará". Um verdadeiro genocídio cheio de requintes de crueldade.
Mas as coisas não ficaram ao Deus dará. A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar de 28 países, incluindo os EUA) invadiu a Iugoslávia. Como na Segunda Guerra mundial, quando as Forças Aliadas invadiram a Europa nazista e deram um fim à empreitada macabra de Hitler. A partir do momento que a OTAN começou a bombardear as forças de Milosevic e a combatê-las no terreno, este homem viu seu poder se enfraquecer dia após dia, até que as forças sérvias foram derrotadas e… Milosevic foi preso. Este genocida morreu na prisão, sob jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Hoje a Iugoslávia não existe mais. No lugar dela, existem agora 7 países independentes. Não há mais guerra e nem genocídios na Europa. Por que a África não merece o mesmo?!
Os iugoslavos nunca pararam de se diferenciar etnicamente uns dos outros (entre eles próprios) e de fomentar o separatismo, em um gesto que para o leitor de língua portuguesa pode parecer absurdo ou sem sentido. Já imaginou um amigo lhe dizer que tem uma namorada ou que quer votar em alguém e a sua primeira preocupação é saber qual a etnia da pessoa de quem ele fala? No entanto, é o que acontece em muitos países da África, e o que acontecia na Iugoslávia também. No Brasil, por exemplo, as pessoas tendem a se ver umas às outras como brasileiros antes de pensar em raça, etnia ou origem, mas os iugoslavos se viam antes de tudo como albaneses, bosníacos, búlgaros, croatas, macedônios, montenegrinos, sérvios, eslovenos, e ainda distinguiam grupos menores, como os tchecos, eslovacos, morávios, polacos, silesianos, sórbios etc! Ou seja, insistiam em se distanciar e se diferenciar em categorias étnicas.
O que aconteceu, então? Aconteceu que a política na Iugoslávia foi sempre marcada por questões étnicas e terminou por conhecer a mesma tragédia de tantos países africanos: cada indivíduo passou a apoiar partidos e candidatos que sentisse pertencer à sua etnia. E o que acontecia quando as coisas iam mal no país (problemas sociais, economia, violência, etc)? Era sempre a culpa “do outro”, do grupo étnico “x”, que “não são dignos de respeito”, que “conspiram contra o país”, etc. Etnia tornava-se o grande bode expiatório para todos os problemas. E o que acontecia quando um partido político de uma determinada etnia ganhava as eleições? R: Passava a discriminar e a perseguir as outras etnias. O ciclo vicioso do ódio étnico se alimentou e se exponenciou neste sistema. Infelizmente, o fim desta história é muito mau: em 1997 um homem chamado Slobodan Milosevic, de etnia sérvia, chegou ao poder e passou a oprimir com uma crueldade sem precedentes os outros grupos. Eventualmente os ânimos explodiram e começou uma sangrenta guerra civil no país. As regiões onde cada grupo étnico era majoritário começaram a declarar independência da Iugoslávia e o presidente Milosevic retaliava com enorme violência. Um crime hediondo passou a ser executado pelos seus exércitos: “limpeza étnica”. O que quer dizer isso? O mesmo que Hitler tentou fazer na Alemanha; o mesmo que tentaram fazer em Ruanda em 1994: aniquilar uma etnia inteira. Como? De duas maneiras, principalmente: matando tantos indivíduos da outra etnia quanto puder, sem distinção de idade, sexo, condição etc, e estuprando e esterilizando tantas mulheres quanto possível, para impedir o nascimento de uma criança da etnia “indesejada”. Como você pode imaginar, as populações que foram perseguidas e maltratadas criaram um ódio e um rancor muito grande, e também um medo. O conflito e a violência aumentavam e não se via fim no horizonte. O mais provável é que iam se matar até não poder mais. Possivelmente, etnias inteiras iam desaparecer se as coisas ficassem ao "Deus dará". Um verdadeiro genocídio cheio de requintes de crueldade.
Mas as coisas não ficaram ao Deus dará. A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar de 28 países, incluindo os EUA) invadiu a Iugoslávia. Como na Segunda Guerra mundial, quando as Forças Aliadas invadiram a Europa nazista e deram um fim à empreitada macabra de Hitler. A partir do momento que a OTAN começou a bombardear as forças de Milosevic e a combatê-las no terreno, este homem viu seu poder se enfraquecer dia após dia, até que as forças sérvias foram derrotadas e… Milosevic foi preso. Este genocida morreu na prisão, sob jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Hoje a Iugoslávia não existe mais. No lugar dela, existem agora 7 países independentes. Não há mais guerra e nem genocídios na Europa. Por que a África não merece o mesmo?!
A Iugoslávia é apenas um caso recente que pode nos servir como exemplo nesse tipo de tragédia político-étnica, mas a história está cheio deles: quando a Espanha conquistou toda a península ibérica os povos conquistados passaram a guerrear. Portugal ganhou independência e até hoje os bascos, os galegos e os catalães não se consideram espanhóis, e conflitos continuam a existir. De igual modo, quando a Inglaterra conquistou as Ilhas Britânicas, a Irlanda e a Escócia reagiram violentamente. Um já é independente, e o outro decidirá seu futuro num referendo em 2014 (o filme Coração Valente mostra a resistência armada dos antigos escoceses contra o Rei da Inglaterra). Mesmo no continente americano viu-se o mesmo: quando tribos e clãs poderosos alargavam os seus territórios, como os Incas ou os Astecas, muitas guerras aconteciam, e populações inteiras eram dizimadas. Ainda nos nossos dias acontece! A Rússia e a China, por exemplo, são dois países cujas fronteiras ocupam territórios que são historicamente de outros povos, que acusam Moscou e Pequim de lhes oprimir e dizimar, e com frequência conflitos sangrentos surgem. É o caso do Tibete (ocupado pela China) e da Chechênia (ocupado pela Rússia).
Mas, enfim, o que podemos aprender com a história iugoslava?
Mas, enfim, o que podemos aprender com a história iugoslava?
A África é um continente, e não um país. Por isso, a África em si não vai deixar de existir. Mas em nenhum lugar do mundo se faz e desfaz tantos países quanto no continente africano. Mesmo em 2011 um país novo foi formado na África! Chama-se Sudão do Sul (e é um dos países com mais vítimas do LRA no continente). Claro que existe uma razão por trás desse fenômeno, dessa secessão contínua de países. Tudo começa com a colonização da África. Pela colonização feita pelos próprios africanos e suas populações rivais, em seguida pelos árabes e finalmente pelos europeus. Ao longo dos séculos esses povos lutaram pelo domínio das riquezas e dos povos do continente, e teceram os conflitos que hoje sangram no território africano.
Foram os europeus que realizaram a famosa “Partilha da África” (Scramble for Africa) e que mais influenciaram a definição das atuais fronteiras, tão catastróficas e desastrosas. Vejam este mapa:
Foram os europeus que realizaram a famosa “Partilha da África” (Scramble for Africa) e que mais influenciaram a definição das atuais fronteiras, tão catastróficas e desastrosas. Vejam este mapa:
Este é um mapa da África em 1914. Neste ano começou a Primeira Guerra Mundial e a partir daí as potências europeias não conseguiriam mais manter como antes seus domínios naquele continente, terminando um intenso processo de colonização, ocupação e exploração. Apesar dos nomes diferentes, toda a parte azul do mapa era colônia do Reino Unido. Vermelho, da França. Roxo, da Bélgica. Amarelo, de Portugal. Lilás, da Espanha. Verde, da Alemanha. Laranja, da Itália. Em branco são os únicos países que permaneceram independentes: a Etiópia (que já era um império poderoso, com suas próprias expansões coloniais, e tinha condições de resistir às invasões estrangeiras) e a Libéria (cujo território foi comprado pelos Estados Unidos para estabelecer descendentes de escravos que quisessem sair da América e se instalar ali, numa espécie de “indenização em forma de terra”). Todo o resto do continente foi traçado a lápis num evento chamado Conferência de Berlim, em 1884. Nesta conferência as potências estrangeiras dividiram o continente africano segundo suas convenções, em total indiferença às particularidades históricas e culturais e à dispersão étnica dos diferentes povos espalhados pelo continente. Esses princípios não eram respeitados no século XIX, essas questões nem sequer eram levantadas, mas as consequências desse gesto se fazem sentir ainda hoje, e, infelizmente, de modo brutal, violento e trágico, traumatizante para populações e gerações inteiras.
Caricatura de Cecil Rhodes, um dos idealizadores da Partilha da África e do sistema do apartheid |
O LRA é, no fundo, fruto dessa indiferença e menosprezo pelas diferenças entre os povos. Não foi a Conferência de Berlim que criou mais de cem anos antes o LRA, mas ela é uma peça importante para compreender o caos político na África, e foi esse caos que tornou possível existir grupos como o LRA. Lembra quando falamos da Al-Qaeda antes? Não foi Ronald Reagan (ex-presidente dos EUA) ou Mikhail Gorbachev (ex-presidente da União Soviética) que criaram a Al-Qaeda, mas foram as circunstâncias criadas na Guerra Fria que tornaram possível um grupo assim vir a existir, e por isso esses indivíduos e países têm uma parcela de responsabilidade pelo papel que desempenharam.
Eventualmente, sobretudo nas décadas de 1960 e 70, as populações das colônias africanas organizaram com sucesso movimentos de resistência e, uma após a outra, declararam independência das potências europeias. Por razões diversas mas em grande parte administrativas e econômicas (mais território = mais possibilidade de riquezas naturais e de influência política), as fronteiras estabelecidas pelos colonizadores foram mantidas nesses novos estados, e os novos líderes passaram a enfrentar um problema inevitável: os povos de seus países aceitaram unir-se para expulsar o colonizador estrangeiro mas agora que isto foi realizado eles – os diferentes grupos étnicos, religiosos e linguísticos que compunham esses países – querem independência para eles próprios: isto é, queriem se declarar independentes dos novos países africanos, vistos como filhos geográficos das velhas colônias europeias. E assim, de uma hora para outra, heróis viraram carrascos: os novos presidentes e líderes africanos não aceitaram essa vontade de emancipação dos diferentes grupos dentro de suas fronteiras nacionais e resistiram e retaliaram esses grupos. E, assim como na antiga Iugoslávia o partido presidencial pôs somente pessoas de etnia sérvia no poder e oprimiu todas as outras, sem nunca ceder territórios, do mesmo modo os presidentes africanos passaram de libertadores a ditadores, mantendo-se no poder com a justificativa de manter a integridade nacional, e com essa desculpa encheram o governo e seus partidos com seus próprios clãs, viraram as costas para as os outros grupos, governaram com mão-de-ferro e alimentaram ainda mais o ódio entre as diferentes etnias. Este ciclo é grave e ainda não conheceu um fim. No momento em que você lê essas linhas um grupo rebelde está declarando a independência de uma região na África e uma guerra civil se desenrola.
Os colonizadores europeus sabiam que as diferentes etnias, tribos, grupos linguísticos e religiosos na África odiavam-se mutuamente, e usaram isso a seu favor. O mesmo já havia sido feito no continente americano com muito êxito. Os colonizadores entendiam bem os egos humanos e as paixões coletivas, e os manipulavas para o seu próprio sucesso. Você nunca se perguntou como o espanhol Francisco Pizarro, com tão poucos homens, conquistou o Império Inca inteiro, ou como o seu conterrâneo Hernán Cortês, também com um exército insignificante, conquistou todo o Império Asteca? A razão principal dessas conquistas inacreditáveis está no fato que esses conquistadores utilizaram o ódio que os diferentes clãs e as diferentes tribos tinham entre si e os jogaram uns contra os outros em guerras civis, complôs e golpes para enfraquecer seus impérios. E conseguiram. Eventualmente, quando os indígenas do continente americano não tinham mais a quem matar e escravizar passaram a ser eles os mortos e os escravos, desta vez pela mão do colonizador, agora em posição mais forte que os nativos.
Se puder, assista o filme Hotel Ruanda, e você entenderá melhor esse jogo sujo estabelecido entre as etnias indígenas e seu uso pelos colonizadores – e suas consequências trágicas.
Trailer de Hotel Ruanda
Em 2009, o presidente norte-americano Barack Obama fez a sua primeira viagem para a África na posição de Presidente e escolheu visitar Gana por ser considerado o país mais democrático e estável da África subsaariana (a “África negra”). Obama, que é filho de um africano (seu pai é queniano), queria transmitir uma mensagem com esta viagem. Veja o que ele diz:
Como surgiu o LRA?
O LRA nasceu em Uganda, um país com uma história recente complicada, uma nação devastada por colonização, revoltas, ditaduras, disputas políticas, histeria religiosa, conflitos étnicos, guerrilhas e guerras civis e internacionais sangrentas. Hoje o país está um pouco mais estável, mas longe de ser uma terra digna para seus habitantes, e suas cicatrizes ainda não fecharam. Atualmente o LRA já atua mais fora de Uganda, nos países vizinhos (RD Congo, Sudão, Sudão do Sul e República Centro-Africana), do que no próprio território ugandense, mas a população deste país segue marcada pelas campanhas de terror, agora alargadas para seus vizinhos. Você talvez já tenha visto ou ouvido falar de um filme chamado O Último Rei da Escócia. Este filme ganhou o Oscar de melhor ator (para Forest Whitaker) em 2006 e foi um sucesso de bilheterias. Ele conta a história de Uganda durante a ditadura de Idi Amin, que governou o país por quase toda a década de 70. Idi Amin foi um ditador cruel e seus anos são marcados por corrupção, repressão, perseguição, e abusos de direitos humanos. Ele não tinha uma causa popular. Sua única causa era acumular poder pessoal, não importava por quais meios ou sob que custo. No começo de seu governo tinha ótimas relações com os Estados Unidos e Israel, mas quando sentiu-se ameaçado não hesitou em se unir à União Soviética e à Kadhafi, na Líbia, de quem se tornou amigo e para onde fugiu no fim de seus anos no poder.
ps: caso a legenda não apareça automaticamente, clique em CC e escolha “português”.
Como surgiu o LRA?
O LRA nasceu em Uganda, um país com uma história recente complicada, uma nação devastada por colonização, revoltas, ditaduras, disputas políticas, histeria religiosa, conflitos étnicos, guerrilhas e guerras civis e internacionais sangrentas. Hoje o país está um pouco mais estável, mas longe de ser uma terra digna para seus habitantes, e suas cicatrizes ainda não fecharam. Atualmente o LRA já atua mais fora de Uganda, nos países vizinhos (RD Congo, Sudão, Sudão do Sul e República Centro-Africana), do que no próprio território ugandense, mas a população deste país segue marcada pelas campanhas de terror, agora alargadas para seus vizinhos. Você talvez já tenha visto ou ouvido falar de um filme chamado O Último Rei da Escócia. Este filme ganhou o Oscar de melhor ator (para Forest Whitaker) em 2006 e foi um sucesso de bilheterias. Ele conta a história de Uganda durante a ditadura de Idi Amin, que governou o país por quase toda a década de 70. Idi Amin foi um ditador cruel e seus anos são marcados por corrupção, repressão, perseguição, e abusos de direitos humanos. Ele não tinha uma causa popular. Sua única causa era acumular poder pessoal, não importava por quais meios ou sob que custo. No começo de seu governo tinha ótimas relações com os Estados Unidos e Israel, mas quando sentiu-se ameaçado não hesitou em se unir à União Soviética e à Kadhafi, na Líbia, de quem se tornou amigo e para onde fugiu no fim de seus anos no poder.
Trailer de O Último Rei da Escócia:
Idi Amin chegou ao poder de uma maneira que infelizmente se repetiu várias vezes no século XX na África: derrubando um ditador que já estava no poder, prometendo um novo tempo, apenas para se tornar um regente de uma ditadura tão ou mais opressora do que a que havia antes. Durante a década de 1960 um homem chamado Milton Obote governou Uganda sem nenhum respeito por democracia e direitos humanos e também infestou a administração de corrupção. Sua impopularidade cresceu e eventualmente o exército, apoiado pelo povo, deu um golpe de estado. Idi Amin era o comandante da operação e logo declarou-se presidente, dando lugar à nova horrível ditadura que se seguiu.
Entra aqui um detalhe cruel, muito comum no continente africano quando o assunto são conflitos políticos: em muitos países da África, a origem étnica de um indivíduo tem um peso muito grande nas relações. A maioria dos leitores deve estar pensando: “como assim?” Quando se fala de etnia, boa parte dos brasileiros pensa sobretudo em “negro, branco, índio e asiático” e as misturas que existem entre esses, mas a verdade é que não existe um sentimento de “etnia africana” no continente africano. Os ugandenses, para ficar só neste exemplo, não se vêem como “negros”. Eles se vêem como bagandas, itesos, basogas, banyankores, banyaruandas, bakigas, langos, bagisus, acholis, lugbaras, banyoros, batoros, karamojongues, e muitos, muitos outros. É comum um americano se dizer “afro-americano”, mas quando o assunto é etnia os habitantes do continente africano têm sentimentos muito fortes e o separatismo é muito grande. Mas isso não é só na África. É presunçoso pensar assim. Qualquer região habitada há milênios conhece divergências graves entre suas populações indígenas. Basta pensar no exemplo trágico da antiga Iugoslávia, já citado.
Resposta a críticas sem fundamentos
Digo e repito: críticas não são uma coisa má. É bom. Só se evolui e se aprende com críticas. Mas quando difamação ou ignorância tentam se passar por crítica genuína, aí não cola. Está sendo dito e escrito muita coisa não fundamentada sobre a campanha KONY 2012, a Organização Invisible Children e até o próprio LRA e Joseph Kony que, pura e simplesmente, não é verdade. Por que as pessoas escrevem ou dizem isso contra uma causa verdadeira e uma campanha séria? Não dá para saber exatamente, mas tenho algumas hipóteses:
1) Produzir complexos livros e filmes a explicar todas as nuances do conflito e suas análises profundas; ou
2) Utilizar-se de meios midiáticos democráticos em um formato compacto, um conteúdo condensado, uma linguagem simples, que as pessoas possam se identificar e entender minimamente, e alcançar o maior número de indivíduos possível.
Se eles optam pela primeira opção, esse gênero de material acadêmico não tem por hábito propor soluções para os conflitos sobre os quais se debruçam, e alcançam um público muito limitado e pequeno, pois poucas pessoas têm condições e conhecimentos suficientes para integrar esse conteúdo e, sobretudo, poucas têm o interesse de fazê-lo e não se sentem atraídas a dar sua atenção.
Na segunda opção você precisa adotar uma linguagem como a do horário político na televisão: falar para todos, simplificar demais a realidade, misturar propaganda e entretenimento ao seu projeto ambicioso etc, mas as chances de sucesso são muito maiores, e o público alcançado também. É isso que a Invisible Children se viu forçada a fazer. Talvez você ache o Obama, o FHC ou a Dilma pessoas inteligentes, não sei, mas certamente que se ver seus programas televisivos vai notar como eles mastigam e popularizam sua imagem e discursos para poder ver triunfar suas iniciativas junto da sociedade. Isto não é condenável (mesmo que seja culturalmente lamentável), pois é assim que grandes massas interagem. Os problemas dos países do centro da África não vão acabar se eu comprar uma pulseira KONY 2012, e nem mesmo acabarão se Joseph Kony for preso ou morto, da mesma maneira que os problemas nacionais não acabam quando um candidato chega ao poder, mas se as razões e ideias por trás de um projeto tiverem valor, então os benefícios serão maiores do que seria o não investimento neste projeto somente por ele não ser perfeito (como se fosse razoável esperar isso...). Acontece que ao querer resolver os problemas do mundo temos de começar por um, ainda que não tenhamos certeza das prioridades ou conhecimento dos detalhes. Como diz o Dale Carnegie, um dos escritores americanos mais lidos da história, quem quer mudar o seu mundo tem que sair e ir para a rua, e não passar a vida ponderando em casa. Acontece que, na minha opinião pessoal, um exército mercenário que tortura e mata dezenas de milhares de pessoas inocentes em cinco países, destruindo vidas, gerações e comunidades inteiras, plantando sementes de potenciais conflitos ainda mais sérios e letais para o futuro (e que terão um papel no grande jogo geopolítico do século XXI), bem, eu acho que detê-los é uma boa causa pela qual começar. Depois que Kony for detido os problemas não vão acabar, mas já será um (grande) começo, e, sim, é algo que requer urgência.
Por Marina Barros
O ineditismo de um vídeo de 29 minutos não é o único fator que faz de KONY2012 um fenômeno da internet. Com mais de 100 milhões de “views” em menos de uma semana, o documentário produzido pela organização humanitária californiana Invisible Children tornou-se o “viral” de difusão mais rápida desde o surgimento da internet, e a campanha de captação de recursos mais bem sucedida dos últimos anos.
Podemos discordar da proposta da Invisible Children. Certos ou errados, podemos achar que a ideia da campanha é ruim, que divulgar midiaticamente o caos não vai fazer diferença nenhuma para mudar o jogo na África, mas a "versão" dos fatos do conflito não é uma versão mentirosa (e, pessoalmente, não concordo que o fato de as pessoas passarem a dar atenção massiva ao conflito não vai mudar a atitude das autoridades na comunidade internacional). Será que é uma versão simplificadora? COM CERTEZA. São 25 anos de conflitos resumidos num filme de meia-hora! Claro que é simplificado. Mas e as outras horas e horas de vídeos e pencas de textos que a Invisible Children e outras pessoas e organizações já fizeram, e que há muito tempo estão na internet? São eles que vão virar um hit nas redes sociais? Acho que não. Não é o caso. Ponto. É preciso "midiatizar" uma mensagem quando queremos que ela alcance um número grande de pessoas, de espectadores. E a partir dái os interessados poderão se aprofundar mais se quiserem. É como diz o Jimmy Walles, fundador da Wikipedia: "Acho a Wikipedia um ótimo lugar para começar uma pesquisa, mas péssimo para terminar". Quem quiser pode buscar mais informações depois de ver o vídeo se sentir necessidade de se aprofundar, e que bom que queiram! Essa é a razão por trás da criação deste site, o www.sobrekony2012.com. Mas sem o formato "internético" da campanha ela nunca geraria a repercussão que causou. Não precisamos nos passar por ingênuos como essa jornalista para entender isso. As outras versões não são "a versão oficial", são versões aprofundadas ou complementares, ou com críticas fundamentadas. O resto é boataria, ignorância ou mentira. A campanha não diz tudo, muito mais pode ser dito, mas tudo o que ela diz é verdade, sim.
Não percam tempo com esses cantos da sereia sem nenhuma honestidade intelectual.
Há uma causa séria e urgente por trás daquele vídeo colorido.
Mobilizem-se.
Milton Obote |
Idi Amin |
Entra aqui um detalhe cruel, muito comum no continente africano quando o assunto são conflitos políticos: em muitos países da África, a origem étnica de um indivíduo tem um peso muito grande nas relações. A maioria dos leitores deve estar pensando: “como assim?” Quando se fala de etnia, boa parte dos brasileiros pensa sobretudo em “negro, branco, índio e asiático” e as misturas que existem entre esses, mas a verdade é que não existe um sentimento de “etnia africana” no continente africano. Os ugandenses, para ficar só neste exemplo, não se vêem como “negros”. Eles se vêem como bagandas, itesos, basogas, banyankores, banyaruandas, bakigas, langos, bagisus, acholis, lugbaras, banyoros, batoros, karamojongues, e muitos, muitos outros. É comum um americano se dizer “afro-americano”, mas quando o assunto é etnia os habitantes do continente africano têm sentimentos muito fortes e o separatismo é muito grande. Mas isso não é só na África. É presunçoso pensar assim. Qualquer região habitada há milênios conhece divergências graves entre suas populações indígenas. Basta pensar no exemplo trágico da antiga Iugoslávia, já citado.
Resposta a críticas sem fundamentos
Digo e repito: críticas não são uma coisa má. É bom. Só se evolui e se aprende com críticas. Mas quando difamação ou ignorância tentam se passar por crítica genuína, aí não cola. Está sendo dito e escrito muita coisa não fundamentada sobre a campanha KONY 2012, a Organização Invisible Children e até o próprio LRA e Joseph Kony que, pura e simplesmente, não é verdade. Por que as pessoas escrevem ou dizem isso contra uma causa verdadeira e uma campanha séria? Não dá para saber exatamente, mas tenho algumas hipóteses:
1 - A maioria das críticas são feitas
por pessoas que não se aprofundaram em nada sobre o assunto, mas acusam a Invisible Children de simplificar o conflito. Essas pessoas fazem a crítica pela
crítica, talvez para mostrar que são inteligentes, talvez por uma necessidade
de não se sentirem na "febre do grupo", coisas que em princípio são
louváveis mas que devem ser um meio para voos mais altos e não um fim em si.
Essas pessoas veriam respostas às suas questões se se dessem ao trabalho de ler
o próprio site oficial do grupo, onde muitas perguntas e críticas são respondidas, ou tirassem umas 2 horas para estudar antes de
falar.
2 - Outras dessas críticas são feitas
simplesmente por pessoas desinteressadas de ajudar, seja por má fé, falta de
coragem, de caráter ou por pura ignorância. Essas pessoas existem numerosamente e não dá para
dialogar com elas. Não precisamos delas para causa nenhuma e no fundo esses
indivíduos carecem de atenção.
3 - Outras críticas são feitas por
pessoas que, por qualquer que seja a razão, sentem que não têm informações
suficientes e receiam ser manipuladas e vir a contribuir com algo que elas não
conhecem de fato. Esta é uma preocupação legítima. O melhor é se informar bem,
mas compreendo que nem todos têm condições, tempo, paciência ou meios para
fazê-lo. Elas não são moralmente obrigadas a contribuir, mas justamente por sua
falta de um conhecimento maior sobre o caso e os envolvidos essas pessoas devem
restringir suas críticas àquilo que podem deduzir quando não se dão ao trabalho
de procurar se informar mais aprofundadamente.
4- Algumas críticas são muito
importantes e merecem ser ouvidas, porque elas são formuladas por pessoas bem
informadas e de boa fé e que inclusive discordam diretamente da maneira
como a Invisible Children realiza a campanha. Essas críticas são construtivas
ainda que não concordemos com elas, e é preciso sabê-las ouvir corretamente e
aplicar um pouco de lógica e realpolitik ao respondê-las. Um
exemplo: a campanha é acusada de simplificar muito um conflito de 25 anos e de
infantilizar a situação. Não nego essa crítica. Apenas acho que os ativistas
estão diante de duas opções:
1) Produzir complexos livros e filmes a explicar todas as nuances do conflito e suas análises profundas; ou
2) Utilizar-se de meios midiáticos democráticos em um formato compacto, um conteúdo condensado, uma linguagem simples, que as pessoas possam se identificar e entender minimamente, e alcançar o maior número de indivíduos possível.
Se eles optam pela primeira opção, esse gênero de material acadêmico não tem por hábito propor soluções para os conflitos sobre os quais se debruçam, e alcançam um público muito limitado e pequeno, pois poucas pessoas têm condições e conhecimentos suficientes para integrar esse conteúdo e, sobretudo, poucas têm o interesse de fazê-lo e não se sentem atraídas a dar sua atenção.
Na segunda opção você precisa adotar uma linguagem como a do horário político na televisão: falar para todos, simplificar demais a realidade, misturar propaganda e entretenimento ao seu projeto ambicioso etc, mas as chances de sucesso são muito maiores, e o público alcançado também. É isso que a Invisible Children se viu forçada a fazer. Talvez você ache o Obama, o FHC ou a Dilma pessoas inteligentes, não sei, mas certamente que se ver seus programas televisivos vai notar como eles mastigam e popularizam sua imagem e discursos para poder ver triunfar suas iniciativas junto da sociedade. Isto não é condenável (mesmo que seja culturalmente lamentável), pois é assim que grandes massas interagem. Os problemas dos países do centro da África não vão acabar se eu comprar uma pulseira KONY 2012, e nem mesmo acabarão se Joseph Kony for preso ou morto, da mesma maneira que os problemas nacionais não acabam quando um candidato chega ao poder, mas se as razões e ideias por trás de um projeto tiverem valor, então os benefícios serão maiores do que seria o não investimento neste projeto somente por ele não ser perfeito (como se fosse razoável esperar isso...). Acontece que ao querer resolver os problemas do mundo temos de começar por um, ainda que não tenhamos certeza das prioridades ou conhecimento dos detalhes. Como diz o Dale Carnegie, um dos escritores americanos mais lidos da história, quem quer mudar o seu mundo tem que sair e ir para a rua, e não passar a vida ponderando em casa. Acontece que, na minha opinião pessoal, um exército mercenário que tortura e mata dezenas de milhares de pessoas inocentes em cinco países, destruindo vidas, gerações e comunidades inteiras, plantando sementes de potenciais conflitos ainda mais sérios e letais para o futuro (e que terão um papel no grande jogo geopolítico do século XXI), bem, eu acho que detê-los é uma boa causa pela qual começar. Depois que Kony for detido os problemas não vão acabar, mas já será um (grande) começo, e, sim, é algo que requer urgência.
Durante o genocídio de Ruanda, Philip
Gourevich escreveu um livro intitulado Gostaríamos de informar que amanhã
seremos mortos com nossas famílias. Este título não lhe faz refletir, quando lê?. Para mim, é um chamado: enquanto estamos discutindo as
nuances históricas dos problemas, os problemas estão se alimentando, indiferentes
a nosso tempo livre. Bob Marley dizia que pessoas que fazem o mal não tiram
férias, por que os que querem fazer o bem devem empacar? Acredito que o próprio
Joseph Kony adoraria, se pudesse, investir no debate sobre as críticas à
campanha. Qualquer coisa que bloqueie um processo assim é positivo para a vida do LRA.
As pessoas inteligentes do mundo vivem
cheias de dúvidas, só os estúpidos não têm dúvida nenhuma. A divergência e o
debate é algo normal e aceitável. Mas não deve bloquear a ação. Você põe um
vídeo com um gatinho dando descarga na privada e ganha 30, 40 milhões de
visitas. Já os pedidos de ajuda para crises humanitárias... A Invisible Children já fez vários vídeos nos últimos anos e nenhum
tinha mais do que poucos milhares de acesso. Vi bons documentários na internet
sobre o conflito, e alguns têm poucas centenas de acessos no mundo inteiro. A
campanha se pretende popular, e não acadêmica, e fez o necessário para conseguir isso. O objetivo era trazer o nome de Joseph Kony para a agenda do dia, para o debate, torná--lo
falado, torná-lo famoso, e nisso é missão cumprida. Não são professores de Relações
Internacionais nem especialistas em Geopolítica o motor e a catapulta desta
campanha viral: são adolescentes com uma conta no twitter e facebook. E de agora em
diante, vai ser sempre assim, qualquer que seja a causa ou o grupo. Pense um pouco: em 1994, quando ocorreu o
Genocídio em Ruanda, já havia muitos especialistas no conflito nas
universidades, jornais e governos do mundo, mas não existia uma internet como
conhecemos hoje, não havia um rede com interconexão tão poderosa entre as
pessoas. O cidadão comum não tinha voz por que as modernas plataformas mundiais não
existiam. Será que, se existissem, o genocídio teria mesmo ocorrido? Será que
agora algo assim vai algum dia voltar a existir? Talvez a campanha KONY 2012
esteja criando um precedente fabuloso para todos os indivíduos e organizações
terroristas no mundo. Isso não é uma ideia na qual vale a pena investir?! Não tenho a
resposta, mas gostaria de ir até o fim para descobrir, porque a minha aposta é
positiva: o mundo de hoje pode pautar a agenda política e midiática como nunca
antes, e a tendência é que isso só venha a se reforçar..
Vamos ver um exemplo de crítica
completamente não fundamentada que anda circulando pela internet:
Em negro, o texto original da
jornalista, e em vermelho, minhas respostas a suas colocações
Por Marina Barros
O ineditismo de um vídeo de 29 minutos não é o único fator que faz de KONY2012 um fenômeno da internet. Com mais de 100 milhões de “views” em menos de uma semana, o documentário produzido pela organização humanitária californiana Invisible Children tornou-se o “viral” de difusão mais rápida desde o surgimento da internet, e a campanha de captação de recursos mais bem sucedida dos últimos anos.
Personagens reais, celebridades como Oprah, Rihanna, exércitos de jovens
lindos e loiros interagindo com políticos “do bem” compõem uma trama nada
simples mas com uma mensagem clara: Precisamos parar KONY! E faremos isso pela
mobilização da opinião pública para a autorização da instalação de uma base
militar americana em Uganda que vai…parar KONY. (Stop KONY!) Primeiro erro desse texto: "instalação de uma base militar americana em Uganda"
?! "Como é que é?" Algumas de coisas muito importantes para considerar aqui: A
campanha Kony 2012 ou a organização Invisible Children, nesse vídeo ou em
qualquer outro, não defende a instalação de base militar nenhuma, americana ou
estrangeira, em Uganda ou em qualquer outro país. Eles defendem que os 100
conselheiros militares que os EUA enviaram ano passado À PEDIDO DO GOVERNO DE
UGANDA, que não possuem mandato nenhum para participar no conflito ou nas
operações e cuja única missão é dar suporte tático, logístico e tecnológico,
não sejam retirados enquanto o LRA não conseguir ser desmantelado e de
Kony ser capturado. Eles pedem que a missão de assitência não seja cancelada enquanto o
objetivo da unidade anti-terrorismo não for alcançado, deixando as forças armadas ugandenses na mão. Como
você pode imaginar, o exército americano conta com especialistas, experiência e
tecnologia que o exército ugandense não conta, e essa assitência humanitária e
militar é preciosa. Mas tem mais a ser dito: ainda que os 100 americanos
estivessem altamente armados e com permissão para realizar operações próprias (não é o caso), você já viu uma guerra ser travada por 100 indivíduos? Cem americanos contra um exército guerrilheiro de força operacional não revelada mas cujo número estimado varia entre 250 e
3000 e lutando em seu próprio território? Agora o exército americano perdeu
toda a lógica? Mas o absurdo da frase não pára por aí. Desde 2007 que o LRA não
ataca mais em Uganda, tendo avançado para os países vizinhos, e atualmente a totalidade das operações terroristas do grupo são no Congo, Sudão do
Sul e República Centro-Africana. Como os exércitos desses países são ainda mais
carentes e despreparados do que o de Uganda, esses três países autorizaram o
exército de Uganda e realizar incursões em seus territórios com o fim de caçar
Kony e o LRA. Por que, então, se os EUA pretendessem montar
uma base militar operacional ela seria em Uganda, onde o conflito está suspenso, e
não em um dos outros países? Mas não é só uma acusação ilógica, é uma inverdade mesmo: não há base militar americana alguma! Não tem sequer um único militar americano armado lá
com autorização de travar combate! Somente assessores para as forças
armadas de Uganda. Especialistas em logística e em tecnologia bélica. É o
contrário de uma "ocupação" ou "invasão": eles não foram
enviados para submeter as forças armadas daquele país, mas para reforçá-las,
e garantir a soberania daqueles estados, para capacitar essas
forças armadas africanas, que requisitaram ajuda à comunidade internacional, a proteger sua população e território de um grupo
terrorista mercenário, grupo esse que até ontem trabalhava para Omar al-Bashir, ditador do Sudão e procurado pelo
Tribunal Criminal Internacional (TCI), Tribunal este que é uma entidade que não tem um dedo dos EUA
envolvida. Os EUA nem sequer são signatários do TCI, que, aliás, foi concebido pelo Senegal, e não pelas "potências estrangeiras".
O
detalhe cruel é que os americanos não tinham nem mesmo interesse nacional em
fazer isso, em enviar esses homens, e só o fizeram graças a um lobby poderoso
que já dura anos organizado pela Invisible Children e outras entidades
parceiras. E ainda assim enviou um reforço não armado, sem permissão para se
engajar em combate. E isso foi ano passado, em 2011 (a matança do LRA já dura 25 anos, mas o conflito voltou aos jornais pelas mãos da Invisible Children, fundada em 2004). E por ser algo
"sem valor" para os interesses americanos a campanha visa
justamente a criar uma pressão pública que constranja o governo americano a
manter essa equipe de assistentes até que Kony seja preso e
que as forças armadas ugandenses e dos outros vizinhos africanos possam reconstruir a estabilidade
regional autonomamente. E foram esses próprios países que pediram auxílio externa. Você não vai encontrar em um só lugar na internet uma notícia
com o governo de um desses países se manifestando contra esta ajuda
.
.
KONY é o vilão, um ditador que, segundo o vídeo, pratica atrocidades contra
a população ugandense há mais de 20 anos. Cooptação de menores, mutilações e
estupros são alguns exemplos. As imagens e os depoimentos das crianças são de
fazer qualquer um marear os olhos. Alguém, por favor, me indique o momento no
vídeo onde se diz que Kony é um "ditador". Tanto quanto eu saiba é
preciso governar um país para ser um ditador. Esse não é um erro grave. Não
muda o fato que Kony é um criminoso, só mostra o nível de atenção e seriedade
de quem escreve o texto.
A organização Invisible Children faz um
chamado simples: para continuarem a luta contra o ditador (ou a guerra pela paz
na Uganda) [mais uma vez essa falácia de "ditador", que, a meu ver, parece uma técnica para insinuar junto do leitor que estamos nos metendo em assuntos internos de algum país. Não é o caso. Kony não tem nenhuma representatividade política, de fato ou de direito, ele é só um terrorista que atua em cinco países e cujos governos lutam para prendê-lo], é preciso torná-lo conhecido. KONY é o numero 1 da lista da Corte Penal
Americana (que coisa, ela diz que o Tribunal Criminal Internacional é a a Corte Penal
Americana! Equívoco ou insinuação? Erro ou parcialidade?); Torná-lo famoso é o primeiro passo para mobilizar a
opinião pública e exigir da Casa Branca o envio de tropas e reforço para o
exército local, que luta contra o exército de KONY. Como já expliquei, os EUA
não estão enviando tropas para lá e a campanha não pede isso, mas que bom seria
se fosse o caso. Como vemos o próprio Jason Russel dizer no vídeo quando ele
está em Uganda em 2005: "se isso acontecesse só um dia nos EUA o
conflito seria largamente difundido e resolvido em algumas horas". Não é o
caso, e é por isso que a campanha quer mudar as cartas do jogo.
A campanha em si é de tirar o chapéu. Focada em um público jovem e
antenado, constrói um mosaico de elementos que tocam o coração: crianças
americanas lindas falando sobre o “homem mau”, crianças africanas chorando e
pedindo ajuda, artistas e políticos de alta reputação dando credibilidade à
causa. Pressão de tempo é outro elemento indispensável: tudo tem que ser feito
agora, não há tempo a perder. Eu conheço a Invisible Children há dois
anos, quando comecei a estudar o conflito em Uganda, e já tinha visto vários
vídeos deles, alguns com ótimos detalhes sobre a situação. Esses vídeos nunca tinham mais
do que uns 3 mil, 4 mil acessos. Um gatinho dando descarga no YouTube dá umas
40 milhões de visitas. Clipes do Justin Bieber tem nada menos que 1 bilhão de
visitas globais. Pensando nisso, um dos membros do grupo certa vez comentou "Se ao
menos Kony fosse famoso, as pessoas se interessariam em ver, em procurar...". E esse pensamento foi suficiente como deixa para uma ideia
genial "Vamos tornar Kony famoso!" A partir daí as pessoas se
interessarão e tomarão conhecimento das atrocidades cometidas pelo
LRA e da passividade da comunidade internacional em ajudar os exércitos locais
a darem um fim ao conflito. Se a base dessa empreitada (tornar Kony famoso) é
um público jovem (que é quem pauta os trending topics do mundo, os quais os outros
meios vão se ver obrigados a comentar, trazendo o assunto para o seio da
sociedade), então tudo bem. Missão cumprida!
A cereja do bolo é o convite para a adesão à campanha: “não queremos o seu
dinheiro, queremos sua participação, sua iniciativa em ir às ruas e colar
cartazes KONY 2012, juntar-se à multidão no dia 12 de Abril”. A fórmula é
infalível e muito bem aplicada, em tempos de Occupy, KONY 2012 é a
possibilidade de compra do seu próprio Occupy. Para adquirir o KIT, paga-se 25
dólaras e recebe-se em casa uma caixa contendo cartazes e 2 pulseirinhas, uma
para você e outra para presentear. Não é que a análise seja burra. Não acho que
seja. Mas os movimentos "Occupy" são movimentos de caráter político e
econômico, enquanto a campanha Kony 2012 pretende unir todas as pessoas em
torno de uma crise humanitária. São naturezas essencialmente diferentes.
Até aqui nada de novo, mas vale refletir um pouco sobre KONY 2012. Vale mesmo, e eu já li boas
críticas na internet, bem fundamentadas. Elas até tornam o trabalho da
organização Invisible Children melhor, e aperfeiçoam a campanha. Mas não é o
caso dessa.
Um viral que se espalhou com tamanha velocidade foi compartilhado
predominantemente por adolescentes meninas (13 a 17) e jovens meninos (18 a
24). Na flor da idade, eles envolveram-se apaixonadamente pela causa de um
amigo ugandense da mesma idade – o personagem real que clama por ajuda, gerando
uma forte identificação com este público. É inegável o forte engajamento
demonstrado por estes adolescentes e jovens, demonstrando sua potência em
“fazer justiça pelas próprias mãos”. Mas a ausência de um filtro mais crítico
deste público pode ter sido a causa do compartilhamento indiscriminado do
vídeo, gerando tamanho sucesso. Este parágrafo não tem necessariamente nada
de "errado", mas quer te fazer crer que um meio justo para alcançar
um fim bom é condenável. Isso é falacioso. Esses jovens são quem definem os
trending topics do mundo, o mundo multimidiático e interconectado de hoje.
Esses temas em destaque, sejam bons ou maus, são obrigatoriamente falados,
discutidos, repercutidos. É um poder dessa geração, e ele pode ser usado para o bem
ou para o mal, para o importante ou para o banal, e algum gênio na Invisible
Children soube canalizar esta força para sua causa. Nós podíamos ficar
retweetando CALA A BOCA, GALVÃO ou LUÍZA ESTÁ NO CANADÁ, não é?, mas em vez disso demos
um segundo sem esforços de nossas vidas a uma causa nobre, à repercussão de uma
crise humanitária muito grave e muito ignorada, à conscientização das pessoas.
É verdade que normalmente meninos e meninas muito jovens ainda não tem certos
filtros críticos e que isso torna mais fácil a divulgação de muito besteirol
(basta ver a praga das "correntes" na internet). No entanto, não são só os jovens que fazem isso,
não. No final a jornalista quer dar uma de sabichona e diz que "a ausência
de um filtro crítico pode ter sido a causa do compartilhamento do vídeo".
E o fato de ser uma campanha verdadeira, uma entidade
séria, uma causa justa e as pessoas reconhecerem isso, não conta,
não?? Eu tenho senso crítico, sou relativamente bem informado sobre o conflito
e apoio inteiramente a campanha, bem como a divulgação do vídeo. Esses
argumentos são de má-fé jornalística. Ela deve pensar que os leitores também
têm "ausência de filtro crítico" quando a lêem, certamente.
Fica evidente que um espectador crítico e atento fará alguns questionamentos
ao vídeo. Prova disso foi o “rebote” que este sofreu, com artigos em
importantes veículos em menos de dois dias após seu lançamento. A rede não
deixa barato, as pessoas não tardaram a buscar a versão oficial, ou melhor, as
outras versões. Alguns exemplos podem ser encontrados no Huffington Post e The Guardian. Por que antes de malandramente fingir se corrigir (já que
é um texto digitado), dizendo "outras versões", ela diz
que as pessoas quiseram buscar a "versão oficial"? Ela quer nos fazer
crer que a versão do vídeo não é verdadeira, e que existe uma outra com o
atributo de ser "oficial". É mentira. A história no vídeo de 30
minutos é verdadeira. Só que ela é:
1)
condensada
&
&
2)
propõe uma solução idealizada pela Invisible Children
Podemos discordar da proposta da Invisible Children. Certos ou errados, podemos achar que a ideia da campanha é ruim, que divulgar midiaticamente o caos não vai fazer diferença nenhuma para mudar o jogo na África, mas a "versão" dos fatos do conflito não é uma versão mentirosa (e, pessoalmente, não concordo que o fato de as pessoas passarem a dar atenção massiva ao conflito não vai mudar a atitude das autoridades na comunidade internacional). Será que é uma versão simplificadora? COM CERTEZA. São 25 anos de conflitos resumidos num filme de meia-hora! Claro que é simplificado. Mas e as outras horas e horas de vídeos e pencas de textos que a Invisible Children e outras pessoas e organizações já fizeram, e que há muito tempo estão na internet? São eles que vão virar um hit nas redes sociais? Acho que não. Não é o caso. Ponto. É preciso "midiatizar" uma mensagem quando queremos que ela alcance um número grande de pessoas, de espectadores. E a partir dái os interessados poderão se aprofundar mais se quiserem. É como diz o Jimmy Walles, fundador da Wikipedia: "Acho a Wikipedia um ótimo lugar para começar uma pesquisa, mas péssimo para terminar". Quem quiser pode buscar mais informações depois de ver o vídeo se sentir necessidade de se aprofundar, e que bom que queiram! Essa é a razão por trás da criação deste site, o www.sobrekony2012.com. Mas sem o formato "internético" da campanha ela nunca geraria a repercussão que causou. Não precisamos nos passar por ingênuos como essa jornalista para entender isso. As outras versões não são "a versão oficial", são versões aprofundadas ou complementares, ou com críticas fundamentadas. O resto é boataria, ignorância ou mentira. A campanha não diz tudo, muito mais pode ser dito, mas tudo o que ela diz é verdade, sim.
As críticas frisaram alguns aspectos centrais do viral:
Neo-colonialismo: o vídeo reforça o estereótipo do americano bonzinho que salva a África,
“continente de mazelas infinitas”, desconsiderando todas as iniciativas sociais
e políticas bem sucedidas de dentro de Uganda. Trata-se de uma postura
claramente neo-colonialista. A maioria dos membros da Invisible Children
são africanos. Ugandenses, Centro-Africanos. Congoleses e Sul Sudaneses. Vivem e
trabalham em seus países natais, africanos. Nome, foto e nacionalidade de cada
um deles está no site oficial. Esse argumento difamatório morre aqui. Não são consideradas
questões políticas regionais, que agravam o contexto do país. Nem mesmo é
mencionada a existência de instituições estabelecidas no pais, como um governo
federal, do presidente Yoweri Museveni (foi mal!, esquecemos de dizer que na República
de Uganda tem um governo, diferentemente dos outros países do mundo. Ah, sim, e
por acaso o mesmo governo que pediu formalmente ajuda externa para combater o LRA), que também deveria ser alvo de pressão política. Finalmente, desconsidera-se
a responsabilidade das grandes potências pelo que a África é hoje. A resposta a esses dois
argumentos já dei ao explicar que vídeos e textos que esmiuçam, analisam e
criticam isso - Museveni e a responsabiildade dos antigos ditadores e
colonizadores - já foram produzidos às pencas e estão todos disponíveis na
internet, e o interesse das pessoas em se mobilizar a partir deles é o que é, ou
seja, zero. Eu já vi e li vários deles nos últimos anos e nenhum me fez mudar
de opinião quando digo que a Invisible Children é seria, a causa deles é justa
e urgente e a mobilização e repercussão causadas pela campanha é louvável. É um
precedente histórico. Aliás, aproveito para utilizar a premissa argumentativa
(justa) da jornalista: as grandes potências são responsáveis pelo que a África
é hoje, não é? Então têm a obrigação de ajudar esses países agora que requerem
ajuda externa! Teriam até obrigação unilateral, já que são responsáveis, de
prenderem um terrorista que mata inocentes em países sem forças armadas suficientemente
bem estruturadas para responder a esse tipo de agressão contra sua população.
Uma última coisa: Museveni, presidente de Uganda, não é mesmo flor que se
cheire. Na verdade, ele tem uma folha corrida totalmente podre. Ele já usou
soldados crianças no passado, é corrupto pra caramba, tem vieses pouco
democráticos etc. E Joseph Kony, quando confrontado por jornalistas, diz que
luta por "democracia e direitos humanos em Uganda". É claro que ele
não está nem aí para Museveni. Ele só se aproveita do fato de Museveni ter a
sua própria dose de impopularidade e adota esse discurso para ganhar alguma
legitimidade. Kony vive para Kony, e qualquer coisa para se defender ou
convencer seu público do contrário é válido. O negócio dele é ter poder para
continuar mandando num exército, ter um harém, contatos políticos e bens
materiais que numa vida normal ele nunca poderia ter para satisfazer seus luxos
cruéis. Se amanhã Museveni, por uma mágica conjectura política, precisasse dos
serviços de Kony, ele ia alegremente pôr a seu dispor seu exército terrorista,
como fez quando Omar al-Bashir, presidente do Sudão, assim pediu (e olha que
Omar al-Bashir é um terrorista funbdamentalista muçulmano, e o LRA se diz um
grupo fundamentalista cristão, para enganar quem ainda acredita em discurso de
terrorista). Sim, Museveni é deplorável e é o presidente de Uganda. Mas
Kony não muda esse fato para melhor, e nem está interessado em fazê-lo.
Museveni é que aproveita a existência do LRA para reforçar sua tomada de
decisões em caráter de urgência (saltando os trâmites legais) e expandir sua
influência e popularidade política, combatendo-o. Se um dia, durante o seu
governo, conseguirem prender Kony (e eu espero que isso aconteça), vai
provavlemente virar um herói nacional (ou não, se outros fatores jogarem um
papel surpresa). Isso é mal para a democracia ugandense, mas é um mal menor do
que o mal de haver um exército de terroristas torturando civis, matando pessoas
e sequestrando crianças. Mas, na verdade, sentar nos louros por muito tempo não funciona, e com o combate contra o LRA já inexistente seu carro-chefe desapareceria. O PSDB criou o Plano Real, mas nem por isso conquistou as últimas eleições no Brasil. Talvez se ainda houvesse grande inflação e apenas pequenas conquistas nesta área, ainda se elegesse até hoje. O sentimento de vitória tem prazo de validade, o cenário político na verdade acabaria por mudar. Em todo o caso, só os ugandenses podem decidir seu próprio futuro
político, mas enquanto Museveni se limitar a ser um ditador corrupto (e não um
terrorista, que é algo que ele não é), não cabe a nações estrangeiras tomar
decisões políticas em Uganda (mas cabe, por exemplo, investir em paz, saúde e educação, se
quiser provocar mudanças verdadeiras), mas potências estrangeiras podem, sim, dar
assistência na caça a um terrorista cruel, brutal e desumano que destrói gerações e regiões inteiras, causando dor indizível e plantando a
semente potencial de outros conflitos sangrentos futuros que pretenderam rebater a crueldade infligida.
Agenda oculta: seria KONY o novo Bin Laden? Qual o interesse em criar uma base militar
em Uganda? Quem sabe, descoberta, em 2009, de uma grande reserva de petróleo na
região? Talvez, mas eu sempre desconfio de uma agenda oculta, quando há
interesses dos Estados Unidos, Reino Unido e ONU. Basta olhar para o Vietnã, o
Iraque, a Libia, o Afeganistão e, agora, o Irã. Além de toda a história de
apoio a ditaduras militares na América Latina, África e Ásia.Primeira coisa a dizer: o
petróleo extraído em Uganda é uma quantidade que não pagaria o preço de uma
intervenção militar no país. É logisticamente insignificante. Países como
Portugal, Suíça e Paraguai produzem mais petróleo que Uganda, e eles não são o
que chamaríamos de "grandes produtores de petróleo", não é? Essa
reserva de petróleo, aliás, foi descoberta em janeiro de 2009. Uganda ainda não
conseguiu produzir suficientemente para estar nem entre os 100 países que mais
produzem. E só quase 4 anos depois é que os EUA se lembrariam de fazer alguma
coisa? E, afinal, que coisa é essa? Não há coisa alguma. É bom saber que não engolimos qualquer iniciativa das chamadas potências estrangeiras, que nos interroguemos as razões, os fatores etc. Mas cuidado para não criar sentimentos extremados, que nos cegam quando a situação muda. Quando os EUA e a União Soviética invadiram a Europa e começaram a libertar os países subjugados pelo exército alemão certamente que havia interesses geopolíticos laterais que ultrapassavam a simples questão da paz e dos direitos humanos, mas se isso impedisse a ação hoje estaríamos aqui nos perguntando como foi possível a humanidade se prender a essas questões e permitir Hitler levar seus ideais de extermínio e poder às últimas consequências. Millôr Fernandes dizia que "A religião pode ser o ópio do povo, mas o marxismo é o ópio dos intelectuais". Adapto a frase para algo que considero mais amplo e justo: nossos preconceitos são o ópio do nosso intelecto. Se, por um lado, "etnia" virou o bode expiatório para todos os problemas na África, "petróleo" é o bode expiatório para todas as crises militares internacionais. Cuidado
Credibilidade da organização: o relatório financeiro da
organização Invisible Children aponta que
apenas 30% dos recursos são destinados para as comunidades em Uganda. Na verdade, 37% (3 milhões
de dólares, em 2011) vão diretamente para os programas africanos (e não
"ugandenses", como diz a jornalista, porque entre eles estão
congoleses, sudaneses do sul e centro-africanos). Talvez ela ache que por
representar só "algumas centenas de milhares de dólares", 7% não
conta. 35% vão para os outros programas ao redor do mundo (por exemplo, o
material de campanhas como KONY 2012, a publicidade massiva, as milhares de
projeções públicas e conferências organizadas sobre o conflito, o consistente
lobby político, etc.. é esse destaque que permite ganhar mais dinheiro para que
mais seja enviado para os programas na África). 8% são para a produção de
filmes sobre o conflito e sobre as iniciativas da Organização e seus parceiros.
2% são para financiar iniciativas diretas de arrecadação de fundos. O resto
(cerca de 17%) é para despesas da Organização (como o pagamento de serviços e
funcionários à escala global). Ou seja: 84% do orçamento é dedicado
exclusivamente para os programas, e pouco mais de 16% para despesas da própria
organização. Todos esses dados estão disponíveis no site oficial da Invisible
Children e de acordo com as declarações fiscais da entidade, que,
contrariamente ao que diz alguns boatos na internet, são checados por uma
terceira entidade contabilística sem associações com a Invisible Children,
baseada em San Diego e que se chama Considine & Considine. É claramente o que
poderíamos chamar de uma organização social midiática, que vive para e de suas
campanhas. Mentira.
Que má-fé argumentativa. Ela vive de seus colaboradores e para provocar
um fim a um conflito internacional gigantes e sangrento mas essencialmente
ignorado e trazer dignidade a uma região devastada. E as dezenas de escola e
centro de reabilitação que a Organização financiou na África não conta? E o
sistema de rádio que a Organização criou para alertar ataques nas vilas
isoladas, que diminuiu drasticamente o número de vítimas e acelerou o
atendimento de socorro, não conta? E o controle estatístico e geográfico dos ataques efetuados, catalogado nos mínimos detalhes para servir ao exército mais eficazmente, chamado LRA Crisis Tracker? Uma reflexão sobre este tema precisa ser
aprofundada. É,
principalmente por fala-baratos internet afora que repetem indiscriminadamente as ideias falaciosas vistas neste texto. O retorno financeiro das campanhas
é diretamente proporcional ao investimento em mídia e criação de conteúdo
(vídeos, fotos, textos). Despesas com criação de filme e mídia do total do
dinheiro arrecadado em 2011: menos de 8% Não é de hoje que as organizações
que adotam investimentos agressivos em imagens e campanhas, são criticadas por
captarem mais para seus executivos e publicitários que para os objetos de suas
campanhas. Vejam o documentário Enjoy Poverty Please,
do artista plástico Renzo Martens, sobre os Médicos sem Fronteira. (http://youtu.be/yREqd8QYtsQ) Apesar da autora do texto separar sujeito e verbo por vírgula, vou responder à questão levantada. Na verdade, essa crítica é
séria: muitas organizações humanitárias estão infestada de malandros e
corruptos. Mas ela insinua que é o caso da Invisible Children para difamar, e
simplesmente não é, não existe nenhuma evidência. Se houvesse, por que ela não
nos envia um link ou um documento que o mostre, em vez de falar de outra organização sem
relação com a Invisible Children, como é o caso da Médicos Sem Fronteiras?
A complexidade do funcionamento da rede e das suas relações extrapola uma
visão dualista de bem e mau. O episódio KONY 2012 pode ser marcado como uma
grande farsa que caiu na rede e virou sucesso. Uma grande farsa é o senso crítico desse texto. Kony existe e faz exatamente o que o vídeo diz
que ele faz, e pior. E está fazendo neste preciso momento. A Invisible Children é uma
organização séria e transparente e seus membros do alto escalão podem ter
ficado muito famosos recentemente com esta campanha mas suas caras e seu
trabalho já estão expostos há muito tempo. Obama assinou o envio dos
especialistas militares ano passado na presença deles, que estão nas fotos
oficiais da cerimônia com o presidente. A campanha é verdadeira e é fruto
somente da iniciativa e dedicação desses jovens. Os políticos americanos teriam
pelo conflito o mesmo interesse que a imprensa americana e a do nosso país
sempre teve: nenhum. Por
isso mesmo que a organização se batizou Invisible Children: para provocar as
pessoas a olhar para esse canto do mundo incompreensivelmente ignorado, como é o caso das dezenas de milhares de crianças mortas, sequestradas e
torturadas pelo LRA de Joseph Kony. Talvez a organização tenha contratado um
sósia ou então subornado Luiz Moreno, juíz-chefe do Tribunal Criminal
Internacional, para aparecer na "farsa". Este juiz, argentino de
origem, disse em 2009 (muito antes de Kony 2012 e vídeos virais explodirem na
internet) que a Invisible Children é "nada menos que um milagre", que
"ela faz coisas acontecerem". Mas um ilustre desconhecido, David
Childerley, chamou atenção para alguns pontos interessantes em seu programa,update
2012 no seu canaldo youtube. No 11/9, lembrou ele, as pessoas
demoraram anos e anos para questionar a versão oficial; KONY 2012 levou dois
dias para ser desvendado; o próximo viral do gênero não terá mais que seis
horas para ser escarafunchado, testado e aprovado – ou não. É verdade que a campanha
KONY 2012 foi investigada e escarafunchada logo que apareceu. E isso é ótimo! E
se existe realmente uma tendência crescente para esmiuçarmos a veracidade do
que se joga para o grande público, então esse é um ótimo sinal dos tempos!
Discordo do fato que levou "anos e anos" para que as pessoas se
questionassem sobre os atentados de 11 de Setembro. No próprio dia ouvi todo
tipo de conjectura. Mas nem é disso que quero falar. Queria só um
esclarecimento da jornalista: tanto quanto eu sei a "versão oficial"
dos atentados de 11 de Setembro de 2001 é que a Al-Qaeda, organização
terrorista orquestrada e financiada por Osama bin Laden, entre outros
indivíduos, sequestrou aviões civis e os jogou contra prédios cheios de gente,
matando milhares de pessoas inocentes. Passados 11 anos, confirmou-se alguma
versão diferente desta? Aguardo informações. A rede é implacável, o
poder de mobilização é infinito. E a desinformação disfarçada de
jornalismo é velha.
Não percam tempo com esses cantos da sereia sem nenhuma honestidade intelectual.
Há uma causa séria e urgente por trás daquele vídeo colorido.
Mobilizem-se.
clap clap clap!
ResponderExcluirJá tinha lido o texto dessa jornalista (se é que ela merece ser chamada assim) e discordei de inúmeras coisas que ela disse, e confesso que em alguns pontos até tinha ficado confuso, embora confiasse sim na boa fé da campanha.
Todavia, eu jamais conseguiria da uma resposta tão completa e esclarecedora quanto as críticas e questões levantadas por ela. Parabéns pelo texto e pelo blog.
Continue assim!
GENIUS! enough said.
ResponderExcluirEssa pseudo jornalista se encaixa em: pessoas de completa má fé e genuinamente CHATAS, que querem a custa de qualquer causa - foda-se se é algo genial - mostrar o quanto são superiores, inteligentes e MAIS informadas, e como são capazes de mostrar como são mágicas e vão fazer vc abrir os olhos e ver as coisas como elas... Elas não se cansam??! Como as pessoas são ridículas por ganância, e o pior: a troco de NADA.
Você a tirou de qualquer posto e rasgou a ilusão dela de ser alguém superior a isso, e o fez com mais seriedade e pesquisa do que qualquer outro "de fora" disso poderia fazer.
Não tenho palavras suficientes, só espero que muitos leiam e decidam se informar antes de espalharem teorias da conspiração mundo afora. Obrigada, Luquinhas!
- I can change the world with my own two hands -
Vejam o filme 'REDENÇÃO'. Fala de um dos maiores guerreiros contra este ditador (SAM CHILDERS).
ExcluirMuito bom, cara!
ResponderExcluirAssisti ao vídeo no primeiro dia que a campanha explodiu pela internet e o achei muito bem feito para ter prendido a mim por quase meia hora sem parecer confuso, chato ou pretensioso. Fiquei animado com a campanha, ainda que realmente não esperasse por essa reação da mídia... É bem isso que a paula colocou: e o pior, em troca de quase nada mesmo.
Seria ótimo que seus comentários e posição a respeito desse tema se alastrassem mais por aí!
Parabéns mais uma vez.
Abraço,
Laurent
Vejam o filme 'REDENÇÃO'. Fala de um dos maiores guerreiros contra este ditador (SAM CHILDERS).
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLucas,
ResponderExcluirObrigada pelos esclarecimentos que nos apresenta sobre esse assunto que é história - e uma história real e cruel, que passa a ser debatida,sobretudo a partir da veiculação de um vídeo, por um nº incontável de pessoas ao redor do mundo.
Todos têm algo a contar mas poucos tem fundamentos sobre o que falam,
Logo, estamos sujeitos a ouvir "histórias" de diferentes versões sobre um mesmo fato - seja um fato histórico,propriamente dito - na medida em que aquele que a conta, por vezes sem conta, pretende convencer o outro de seu ponto de vista e, às vistas, faz revelar sua ideologia, seus valores, suas intenções, etc, como se a verdade que (ele/ela) crê fosse a Verdade a prevalecer.
Vimos essa posição regularmente, por meio de artigos que chegam as nossas mãos, como o da jornalista, e de outros, que se utilizam de um instrumento poderoso, a palavra, para manipular idéias, distorcer fatos, confundir os leitores, com o firme intuito de impor a sua verdade, típico de quem acredita que a sua leitura sobre os fatos é a que comporta a Verdade dos fatos.
Qtas verdades há nesse acontecimento ainda por conhecermos?
À propósito da verdade, escritor J. Saramago disse: "as verdades são muitas e têm que lutar umas com as outras". Eis um inteligente indicativo de que - só depois, passamoa a conhecer o resultado final de uma história, que abrirá caminhos p/ outras verdades a seguir.
Lucas, seus artigos revelam estudos consistentes e respaldados sobre o acontecimento, nos permitem alargar os nossos conhecimentos e desembaçar a nossa visão.
Que muitas outras pessoas possam ter acesso à leitura de qualidade que vc nos oferece.
Agradeço imenso a sua colaboração qto ao modo sério de enfocar uma história.
Parabéns pela iniciativa do blog.
A versão "não oficial" do 11/09 está no documentário Zeitgeist amigo. Mas como não é oficial não é "confirmada" (se confirmada tinha o sentido de oficial pra você). Parabéns pelo texto bem escrito e elucidativo.
ResponderExcluirCaro Rodrigo, quem gosta de chamar as coisas de "versão oficial" é a jornalista que escreveu o texto, não eu. Não quero saber, como ela, o que é "oficial", quero saber o que é a verdade. Aliás, pelo seu próprio comentário vejo que você também sabe fazer essa distinção. No mais, gostaria de dizer que este site não é sobre o 11 de Setembro e não pretende sê-lo, minhas opiniões sobre esse assunto não importam aqui e só tem valor pessoal Em todo caso, se o documentário Zeitgeist lhe impressiona, busque também ler o http://www.debunking911.com/ . Depois de fazê-lo estará mais bem "armado" de fatos diversos para poder formular uma opinião final. Obrigado pela sua participação, espero que possa divulgar esta página para acabar com o ciclo de desinformação que anda por aí.
ExcluirQUERIA AJUDAR MAIS NA CAMPANHA STOP KONY BRASIL E INFELIZMENTE ESTOU VENDO Q ESTAMOS DISSOCIADOS, SEPARADOS EM VÁRIOS GRUPOS, DESUNIDOS E COM POUCA INFORMAÇÃO CLARA DE COMOM EFETIVAMENTE AJUDAR. NINGUÉM CITOU POLÍTICOS BRASILEIROS, MEIOS DE FACILITAR ACESSO A ELES, FACEBOOK OU TIWTTER DELES, ETC. ESTOU POR MINHA CONTA USANDO MEU TWITTER @dechen_dorje PARA FAZER ESTA DIVULGAÇÃO P O MUNDO. GOSTARIA DE ESTAR FAZENDO ISSO AQUI NO BRASIL TB. SE SOUBEREM COMO, FAVOR INFORMAR. OBRIGADO! PARABENS PELA INICIATIVA DO BLOG.
ResponderExcluirVejam o filme 'REDENÇÃO'. Fala de um dos maiores guerreiros contra este ditador (SAM CHILDERS).
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